Hacking Her uma ação transformadora para reduzir a distância de gênero na Tecnologia
Por: Lindalia Sofia Junqueira
O Rio de Janeiro se prepara para sediar a maior competição da América Latina envolvendo hackers do bem e desta vez ela será feita com a participação especial das mulheres, nosso desafio é unir programadoras de todo o país, jogando luz numa lacuna comum do mercado: a baixa participação de mulheres na área.
Um levantamento da Serasa Experian identificou que menos de 1% das mulheres trabalham de fato em cargos ligados à tecnologia no país, cargos como o de programadoras, por exemplo, são raríssimos. E o problema só aumenta, se antes acreditávamos que levaríamos cerca de 80 anos para alcançar a equidade de gênero entre homens e mulheres na sociedade, após a pandemia, essa distância foi aumentada para 300 anos, segundo a ONU.
Precisamos e devemos mudar isso por meio de ações como a do Hacking Rio (HR), um evento gratuito de tecnologia, focado na educação e que neste ano chega à sua sexta edição. Conhecido internacionalmente por promover o maior Hackathon da América Latina, o HR se baseia na promoção da diversidade com a adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da ONU.
Neste ano, a meta é incentivar a participação das mulheres na competição. E diga-se de passagem, não se trata de excluir os homens, eles continuam sendo muito importantes e devem participar ao lado das mulheres, como mentores, incentivadores e jurados da competição. Afinal, é assim que a gente muda a sociedade, unindo e não excluindo. Nossa missão será unir mulheres das mais diversas áreas, como Design, Negócios e Desenvolvimento para materializar uma solução inovadora em prol da sociedade, mas muito mais do que isso, queremos capacitá-las, fornecendo as ferramentas para que elas possam sair dessa experiência transformadas e conscientes de que também são capazes e têm o direito de serem aquilo que quiserem.
Sabemos que tudo começa com a educação, junto ao acesso a ela, queremos estimular ecossistemas locais e gerar oportunidades para todos, com esse princípio fundamos o movimento “Juntos pelo Rio” de onde nasceu o Hacking.Rio, em 2018.
Em paralelo, devemos olhar para a equidade como um problema da sociedade como um todo. É importante ter em mente que todos nós, independente da condição social, perdemos com a desigualdade, seja ela de gênero, de raça ou de etnia, pois além do impacto cultural que ela provoca, ela é capaz de afetar diretamente a nossa economia, impactando até mesmo a lucratividade das organizações.
As pesquisas estão aí para provar o que estamos dizendo já há alguns anos, as empresas que investem em diversidade, equidade e inclusão (DE&I) sempre saem na frente. A Mckinsey fez um levantamento que comprova que organizações que contratam colaboradores com diversidade racial e étnica têm 35% mais chances de obter retornos financeiros acima da média. Outro estudo da Ernst & Young aponta que empresas, que apresentaram mais de 30% de diversidade de gênero em cargos de liderança, obtêm melhores resultados financeiros.
E a explicação é bem lógica, se juntarmos numa sala apenas engenheiros homens, teremos várias pessoas que pensam da mesma forma, encontrando soluções semelhantes para um dado problema. Mas se juntarmos homens e mulheres, pessoas de várias gerações, etnias, raças, formações e áreas, ou seja, pessoas que são e pensam diferente, que trazem outras visões e experiências, poderemos chegar a uma gama maior de soluções e talvez até muito mais eficazes para atender os mais variados tipos de problemas, e isso que chamamos de um ambiente pautado na inovação de fato.
No caso específico da tecnologia, por exemplo, temos que construir uma base sólida para que as mulheres possam avançar e conquistar mais posições e posições hierárquicas mais altas. Para isso, precisamos criar esses ambientes de aprendizados para as meninas desde as escolas de ensino fundamental aos centros técnicos. Apresentar a elas exemplos inspiradores de outras mulheres que se destacam na área e assim como fazemos no Hacking Rio, incentivar bootcamps de imersão, ampliar o acesso aos cursos de tecnologia nas comunidades e os investimentos para as startups lideradas por mulheres.
As mulheres precisam experimentar sem medo e se espelharem em outras mulheres e comunidades que já atuam com tecnologia. Costumo dizer que não existe um único caminho, às vezes, você descobre que trabalhar com programação, códigos ou algoritmos pode não ser muito o seu perfil, mas que é possível atuar no setor em áreas como de gestão, análise de dados, designer de interface, marketing digital, customer service, ou seja, em muitas outras carreiras aliadas ao setor de tecnologia, que também dependem dessa diversidade. Mais que uma competição, o Hacking Her tem esse propósito de inspirar e de unir a todas e todos em prol de um objetivo infinitamente maior.
Lindalia Sofia Junqueira* é CEO da Ions Innovation, vice-presidente do Conselho do Centro de Tecnologia SMART e Conselheira Editorial do MIT Technology Review. Investidora eleita pela Abstartups, como “Heroína do Ecossistemas de Startups do Brasil”. É também a primeira brasileira selecionada pela Singularity na NASA Ames Research. Em 2018 criou o https://www.hackingrio.com/ considerado o maior hackathon da América Latina. Ela também foi a organizadora do Global Ocean Day, que aconteceu no Museu do Amanhã com o objetivo de impulsionar a Blue Economy no país e colocar o Rio no cenário internacional dessa economia.