Fuga de talentos para o exterior é obstáculo para crescimento das startups brasileiras


Assespro-RJ
Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia
01 de Junho de 2023 14:44
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O ecossistema de inovação brasileiro ainda passa por um momento desafiador. Investidores continuam criteriosos e as startups evitam ao máximo buscar aportes condicionados a uma queda de valuation. Somado a esse cenário de pouco capital disponível, a escassez de talentos representa outro obstáculo - 92% das startups acreditam que faltam profissionais de tecnologia no Brasil e entendem que um dos principais efeitos dessa lacuna é o atraso de seus negócios.


O dado é do relatório "Panorama de talentos em tecnologia", realizado pelo Google for Startups em parceria com a empresa de pesquisa em tendências Box 1824 e a Associação Brasileira de Startups (Abstartups). No estudo, divulgado nesta quarta-feira (31), 253 startups foram consultadas. O levantamento também realizou entrevistas qualitativas com 10 com lideranças de startups e especialistas na área de educação e tecnologia. O relatório completo pode ser visualizado aqui.

Na visão das startups entrevistadas, as áreas de tecnologia com maior escassez estão diretamente ligadas a soluções estruturais ou de aperfeiçoamento dos processos de trabalho, e geralmente são ocupadas por profissionais com escopos mais específicos. São elas: Engenharia/Desenvolvimento (apontada por 60% dos entrevistados), Dados (49%), Desenvolvimento de Produto (43%), Inteligência artificial e Aprendizado de Máquina (41%) e Cibersegurança (30%).


Ao detalhar a questão da falta expressiva de talentos qualificados, 84% das startups entrevistadas afirmaram que o mercado de tecnologia brasileiro não forma profissionais seniores suficientes para ocupar vagas que exigem mais experiência e especialização. A grande dificuldade, neste quesito, é de equiparar a oferta salarial de grandes empresas nacionais e internacionais. O Brasil ocupa a 75ª posição no ranking de competitividade global de talentos e a 9ª posição na América Latina, segundo dados do Global Talent Competitiveness Index 2021, Insead, 2021.


Há também uma fuga de talentos - independentemente da senioridade. Os profissionais que são especialistas buscam e são alvos constantes de melhores oportunidades, principalmente fora do país. Das entrevistadas, 73% das startups concordam que existem condições mais atrativas internacionalmente, e 60% dizem que a remuneração no mercado brasileiro não é competitiva comparada a mercados internacionais.


"É necessário pensarmos políticas mais específicas que não sejam apenas de remuneração direta em salário, mas também outras formas de participação societária que tornem o mercado brasileiro mais atrativo", avalia André Barrence, head do Google for Startups para a América Latina. "Não é só o salário que importa, mas toda uma perspectiva de crescimento do profissional junto com o crescimento da empresa", acrescenta.


O executivo lembra, ainda, que a lacuna na formação de profissionais em tecnologia não pode ser creditada a apenas um motivo. Ele considera que existe uma série de razões pelas quais o Brasil não consegue formar profissionais em tecnologia na mesma velocidade com que precisa contratá-los. Algumas dessas razões foram apontadas na pesquisa. Por exemplo, para 54% das startups, cumprir todos os requisitos necessários para as vagas junior em tecnologia no Brasil é muito difícil.


Além disso, 78% consideram que há grande afastamento entre os jovens brasileiros e bases de conhecimento para tecnologia. Outros motivos apontados foram: a defasagem no ensino do pensamento lógico nas escolas (89%); falta acesso a computadores de qualidade para a população desde antes da idade profissional (71%); pouco conhecimento na escola de exemplos/profissionais bem sucedidos (62%).


Segundo dados da Abstartups, 59% das startups abriram processos seletivos em 2023, mas 42% das vagas não foram preenchidas porque as empresas não encontraram profissionais que cumpriam as competências necessárias. "As startups precisam do talento para manter e crescer a operação, e esse talento está cada vez mais difícil de atrair e de reter. É um momento desafiador para os negócios em tecnologia", avalia Luiz Othero, CEO da instituição.

Apenas 7% das startups consideram ter, em seu quadro de talentos, todas as competências profissionais de que precisam no momento.


O levantamento também indica que as startups têm dificuldades para ampliar a diversidade geográfica, de raça e de gênero. Para 62% delas, existem "grandes barreiras" para a contratação de pessoas de regiões mais distantes dos grandes centros do país. Metade delas também cita "grandes barreiras" para integrar mais mulheres e pessoas negras aos seus times.



Inteligência artificial deve acelerar lacuna

O forte crescimento dos negócios relacionados a inteligência artificial deve acelerar ainda mais a falta de talentos na área, avalia André Barrence. "O desafio vai se tornar maior, porque o ritmo de desenvolvimento e a necessidade de se manter atualizado nessas novas tecnologias será fundamental", avalia. "Os próprios modelos de formação devem mudar muito.Os profissionais vão precisar aprender novas ferramentas, linguagens e frameworks e desenvolver um mindset de muito crescimento e curiosidade para se manterem atualizados".


Luiz Othero concorda que toda tecnologia emergente traz novas perspectivas de mercado e formação. "Sabemos que a IA é transversal a todos os negócios, então com certeza há uma jornada longa e, de certa forma ainda incerta, sobre como vai ser, mas certamente precisaremos de novas pessoas. A necessidade do mercado será rápida e pode ser que demore um tempo para formar pessoas nessas novas tecnologias", diz.



Google anuncia plataforma de empregabilidade


Junto com a divulgação do relatório, o Google anunciou que todas as pessoas que se formarem nos Certificados Profissionais do Google passarão a ter acesso a uma plataforma do Bettha.com uma trilha de conteúdo de soft skills.

Além disso, ela permitirá o acesso prioritário a vagas de emprego anunciadas pelo Grupo Cia. de Talentos, que tenham alinhamento com o Certificado Profissional obtido pelo estudante.


A parceria contará com vagas ofertadas pelo próprio Bettha, pela Cia. de Talentos e também pelo Instituto SerMais, ONG do grupo que trabalha com grupos politicamente minorizados.


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Via: Época Negócios

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